CANDIDÍASE ORAL: DESAFIO PARA A ODONTOLOGIA HOSPITALAR E DOMICILIAR






A candidíase oral é uma das infecções fúngicas oportunistas que mais acomete os pacientes em unidades hospitalares e acamados em domicílio. As chances de contrair infecções podem aumentar devido às condições dos pacientes e aos procedimentos realizados em pacientes internados ou acamados. Os casos são considerados críticos, por estarem em um ambiente suscetível e associado a  imunidade baixa, apresentam maior vulnerabilidade.

A candidíase oral é dividida em 2 grupos, a primária que acomete os tecidos orais e periorais  e a secundária que surge de forma generalizada.
A sua etiologia é multifatorial. Estão incluídas a estomatite protética associada à Candida spp., queilite angular, glossite rombóide mediana e o eritema gengival linear.

Existem duas outras condicionantes de Candida spp. descritas na literatura. Estas são a cheilo-candidíase e a candidíase multifocal crônica. A cheilo-candidíase apresenta-se com uma lesão ulcerativa granulosa crônica no vermelhão do lábio inferior. A candidíase multifocal crônica causa lesões com placas eritematosas crônicas em dois ou mais locais na boca, palato, ou dorso da língua.

Os agentes etiológicos mais frequentes são as conhecidas espécies de Candida albicans, mas outras, podem frequentemente colonizar e/ou infectar os tecidos orais.

Denominadas como infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) , a infecção hospitalar, de acordo com a portaria nº 2.616/98,do Ministério da Saúde, é  toda infecção adquirida em ambiente hospitalar,podendo manifestar-se durante a internação ou após a alta.

Estudos epidemiológicos contém dados relevantes para a prevenção e controle de infecções, e baseados nestas evidências, notoriamente, devemos dar grande importância aos índices que apresentam  Candidíase ora faríngea como uma das mais frequentes em pacientes internados e acamados em domicílio.

Não podemos esquecer que se trata de uma infecção sistêmica e que a abordagem junto a equipe médica, atuando integralmente, é necessária. É fundamental, ético e legal relatar os dados clínicos e monitoramento em anamnese, prontuários hospitalares ou domiciliares.

O cirurgião-dentista deve saber diagnosticar as alterações bucais precocemente, avaliar presença do biofilme dental, realizar adequação do meio oral através de procedimentos curativos e preventivos, diminuindo a possibilidade da associação da candidíase oral com outras infecções sistêmicas, comprometendo mais o quadro de saúde geral do paciente.

O fluxo salivar destes pacientes encontra-se frequentemente diminuído devido ao uso de medicamentos, aumentando a proliferação de microrganismos, além de outros problemas bucais Para complicar, os pacientes internados com entubação traqueal se mantêm de boca aberta, gerando uma desidratação na mucosa oral, e os acamados com próteses mal adaptadas também permanecem grande parte do tempo com a boca semi aberta. O baixo fluxo salivar está associado com ao surgimento e a proliferação do fungo.

A candidíase orofaríngea pode-se apresentar em várias formas clínicas. Normalmente é assintomática, porém os pacientes relatam sensação de ardência e alterações de paladar,dor, disgeusia e aversão à comida. Concomitantemente aos desconfortos citados, podemos notar que os pacientes queixam da dificuldade na ingestão de líquidos e alimentos, o que consequentemente ocasionará uma diminuição da qualidade de vida.

A candidíase oral primária é subdividida em três grandes variantes:
  •          Pseudomembranosa
  •       Eritematosa
  •       Hiperplásica


A candidíase pseudomembranosa é normalmente aguda.É caracterizada por manchas brancas na superfície da mucosa labial e bucal, língua e palato mole. As lesões desenvolvem e formam placas confluentes que se assemelham a coalhada de leite que podem ser facilmente removidas com uma espátula ou uma gaze revelando uma base eritematosa por baixo. Alguns pacientes (especificamente os diabéticos) podem surgir com áreas erosivas extensas, podem apresentar queixas de ardência, sensibilidade ou disfagia. A candidíase pseudomembranosa afeta aproximadamente 5% dos recém-nascidos e 10% de idosos debilitados, especialmente os que têm doenças terminais e doenças graves, como leucemias e outras malignidades.

A candidíase eritematosa pode surgir como consequência da candidíase pseudomembranosa aguda persistente.Clinicamente a candidíase eritematosa aparece como uma mancha vermelha, normalmente na zona posterior-média do dorso da língua, palato ou na mucosa bucal. As lesões no dorso da língua apresentam áreas despapiladas. Lesões eritematosas no palato são especialmente comuns em indivíduos infetados pelo HIV. A candidíase eritematosa é normalmente assintomática e permanece despercebida se o odontólogo não estiver alerta durante a inspeção da mucosa oral.

A candidíase hiperplásica é a menos comum da tríade. Apresenta lesões discretas crônicas que variam de pequenas, palpáveis e translúcidas a grandes placas densas e opacas, com áreas duras e ásperas à palpação. As lesões também se podem apresentar como lesões homogêneas ou salpicadas (lesões nodulares). Em contraste com a candidíase pseudomembranosa, as lesões de candidíase hiperplásica não são removidas na raspagem.

A maioria dos casos o diagnóstico da candidíase orofaríngea é baseado em sinais e sintomas clínicos.Quando o exame clínico é incerto ou o paciente não responde a terapia antifúngica,podem ser feitos exames complementares de diagnóstico, como a citologia exfoliativa, a biópsia, a cultura microbiológica e testes de suscetibilidade.
O tratamento é constituído em três fases: clínico,terapêutico e monitoramento. Medidas locais, tais como a higiene oral meticulosa, a gestão da xerostomia, e a manutenção da prótese dentária podem prevenir ou minimizar a incidência de candidíase orofaríngea. Estas medidas devem incluir a higiene adequada de todos os tecidos orais e de próteses dentárias. Também é importante a remoção todas as superfícies irregulares existentes nas próteses dentárias.

Em pacientes com candidíase oral associada com próteses dentárias, a higiene da prótese deve ser avaliada e reforçada. As próteses dentárias devem ser removidas à noite, e embebidas durante 30 minutos, de preferência diariamente, mas pelo menos duas vezes por semana, em vinagre branco, solução de hipoclorito a 0,1%, ou gluconato de clorexidina (2% de suspensão). As próteses dentárias devem então ser lavadas fora da boca bem como, deixá-las secar ao ar A literatura sugere que o uso de hipoclorito de sódio ajuda a desinfetar reembasadores e condicionadores de tecidos

Os dois antifúngicos poliênico, a nistatina e a anfotericina B são frequentemente utilizados no tratamento da candidíase oral.

A incorporação de bochecho de 5ml da nistatina 100.000 Ul/ml suspensão oral, 4 vezes ao dia por um minuto e depois engolir, por 14 dias é de grande eficiência. Para reduzir o risco de recidiva, o tratamento deve ser continuado pelo menos durante 48 horas após o desaparecimento de todos os sinais e sintomas associados à infeção.

O miconazol, cetoconazol e fluconazol também são drogas antifúngicas utilizadas.

O gel de miconazol 20 mg é eficaz há mais de 40 anos. Recobrir as próteses por 4 vezes ao dia por 14 dias é indicado como tratamento. Para o tratamento de lesões queilite angular é bem indicado também , a mesma frequência.. Uma vantagem do miconazol é que pode ser administrado empiricamente quando não está disponível um relatório microbiano ou quando não há possibilidade de identificar a natureza exata do agente infecioso.

O cetoconazol está disponível em comprimidos, suspensões e cremes. O creme a 20 mg/g aplicado 1 a 3 vezes até  3 dias após o desaparecimento dos sintomas pode ser aplicado para comissuras labiais  na candidíase hiperplásica crônica. 

Dependendo da infeção, comprimidos de 200 mg uma vez por dia é a dose para sistêmica a usar, por 7 dias.

O fluconazol é recomendado para o tratamento da candidíase orofaríngea de moderada a severa. O fluconazol é dado por via oral ou por via intravenosa.

O prognóstico da candidíase oral depende dos seguintes fundamentos: fazer um diagnóstico precoce e preciso da infeção, correção os fatores predisponentes ou doenças subjacentes, avaliação do tipo de infeção de Candida spp. e uso apropriado de agentes antifúngicos em ambientes hospitalares ou domiciliares.

A candidíase oral é uma infecção frequente em pacientes de UTI e acamados em domicílio. Em pacientes graves pode complicar com a disseminação da infecção e a candidemia, estando associada ao aumento no período de internação e morte. O odontólogo pode proporcionar um diagnóstico e tratamento precoce dos quadros de candidíase oral, reduzindo o risco de infecção sistêmica, qualidade de vida ao paciente  e diminuindo o tempo de internação e custos hospitalares.


por,  Cristiano Trindade.

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